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Laços afetivos que se partem

 

 

 

Perder faz parte das nossas vidas. Perder é crescer, e o 

crescimento é necessário. É necessário o amadurecer.

 

 

 

Amadurecer dói, dói no corpo, emaranha a gente por dentro. Amadurecer o pensamento e o sentimento, amadurecer o que somos e o que seremos. Uma mãe que leva o seu filho ao primeiro dia de aula está perdendo, um filho que inicia a escola está perdendo também. Ele está em uma nova fase e para isso, algumas coisas ficaram para trás. Ele precisa amadurecer. A mãe não tem mais o filho em casa com ela. Ela tem um filho que amadureceu.

 

Vez ou outra, ao longo das nossas vidas, perdemos algo. Não somente aquela perda de oportunidade, de um relacionamento afetivo, mas também a perda de um objeto, ou de um emprego. Por mais que algumas perdas sejam esperadas, muitas vezes não estamos preparados para enfrentá-las, principalmente se a perda for por morte. Dar o adeus a uma pessoa especial é uma tarefa nada fácil.

 

A morte, mesmo nos dias atuais, ainda é vista como um tabu e muito pouco se fala sobre ela. Diferentes ideologias e credos sobre a morte perpassam por diferentes culturas. Muitas pessoas acreditam em vida após a morte, outros acreditam que vão reencontrar seus entes queridos. Outros acreditam que a vida acaba por ali. É um mistério. A variabilidade quanto aos entendimentos sobre o que significa a morte é muito ampla, mas o que todos concordam é que dói muito e que é mesmo muito triste. Desesperador e desconsolador.

 

Estudos apontam que perder uma pessoa devido a uma morte repentina é mais impactante, pela surpresa da notícia e pelo choque da nova informação. Surgem muitas, muitas perguntas sem respostas. Por quê isso foi acontecer? Por quê desta maneira? Por quê esta pessoa?

 

Não menos dolente, tem a morte esperada. Os familiares e amigos começam a se preparar para a morte que está por vir. Ela não será surpresa, pois ela poderá chegar a qualquer momento, mas é tão triste e dolorosa quanto a repentina.

Por quê o falecimento de uma pessoa mexe tanto conosco? Por quê, quando velamos um ente querido, parece que estamos velando uma parte de nós?

 

Todos nós nascemos com estratégias biologicamente programadas e uma delas é buscar sentir segurança. De acordo com a teoria do apego, descrita pelo psiquiatra britânico John Bolwby, desde o nascimento ativamos um extinto fundamental e fortemente impresso no nosso cérebro - a função biológica de proteção. Somos programados para emitir comportamentos que eliciam cuidado e atenção. Isso faz com que busquemos proximidade e segurança com outro, pois dessa maneira, estaremosmais fortes. Quando se diz que alguém está apegado ou que possui apego à outra pessoa, significa que este alguém está disposto a procurar proximidade e contato com essa pessoa, realizando tais ações em condições específicas. O comportamento de apego é a maneira em que a pessoa apegada encontra (com atitudes), para obter ou manter a proximidade com a outra pessoa. O vínculo fortalece a cada ano que passa e cada vez mais são notórios os comportamentos de apego.

 

De repente, a vida nos apresenta uma situação que de um jeito ou de outro, temos que enfrentar. É o diagnóstico de uma doença terminal, é um Acidente Vascular Cerebral (AVC), é um acidente automobilístico, é um desastre ambiental. Pode ser qualquer um deles, vai nos abalar. Ficaremos angustiados, confusos, entorpecidos e desamparados. Inicia-se o processo do luto. De um jeito ou de outro, temos que passar por mais essa situação, muito embora, achamos que não temos forças suficientes. Podesurgir o desejo enorme de que tudo aquilo seja um pesadelo e que logo vamos despertar.Mas não; não é.

 

O que nos ajuda a enfrentar a perda de um ente querido é, sem sombra de dúvidas, o apoio e proximidade de amigos, familiares. A elaboração vem aos pouquinhos, de muitas maneiras e vai depender de muitas coisas. Quando questionadas, algumas pessoas afirmaram que ainda não superaram a perda de um ente querido, mas que o tempo e a volta à rotina são fatores importantes ao longo desse processo. Adisponibilidade afetiva dos que ficam, bem como se sentir seguros, protegidos e amparados, são essenciais para se reerguer.

 

Contudo, existem também algumas situações em que o processo de elaboração do luto é mais lento, muitas vezes em função dos baixos fatores protetivos e da maneira como respondemos. Cada um de nós pode apresentar uma maneira diferente de reagir diante da situação que nos foi imposta. Os enlutados podem se sentir pressionados pela sociedade a expressar a dor, afinal ele perdeu um ente querido e que absurdo ele não estar chorando desesperadamente, ou então, podem sentir que foram deixados de lado, pois não estão tendo o cuidado e apoio que precisam. Precisamos ser fortes, cada vez mais. Precisamos passar pelas etapas de elaboração do luto. Apenas quando enfrentarmos a dor é que vamos conseguir diminui-la.

 

Acontece que, as vezes, algumas pessoas não se sentem à vontade em buscar algum auxílio profissional, outras acabam buscando ajuda através da psicoterapia. Através de técnicas, estratégias e intervenções, a Terapia Cognitivo-Comportamental e a Terapia Focada nos Esquemas, possibilitam o acompanhamento eficaz no tratamento de situações estressoras, sendo a escolha inicial de vários algoritmos psicoterapêuticos. Em um trabalho colaborativo, paciente e terapeuta encontrarão formas para elaborar a perda, readaptar e reorganizar a vida no paciente enlutado.

 

 

Por Lissia Ana Basso em 19 de abril de 2016

Publicado em Artigos, Blog, Notícias

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